Todo dia, ele esvaziava a sua carteira
Dedicado, sempre recolhia todas as moedinhas
E as depositava no porta-moedas do carro
Algumas eram para os flanelinhas
Outras para quem pedia no sinal vermelho
E assim ele fazia
Todo o Santo Dia
Até que numa tarde vazia
Fim de expediente
Clima quente
Misto de cansaço e agonia
O desespero de um drogado e inconsequente
Achou que José
Iria pegar mais do que moedinhas
E quando ele se virou dentro do carro
Tomou três tiros
De quem nem sequer pensou
Não houve tempo
Nem mesmo de José perguntar o porquê
Um rio de sangue se espalhou
Um rio de sangue se espalhou
Com olhos parados, José perdia os sentidos com as moedas nas mãos
Enquanto os motoristas atrás
Buzinavam pelo trânsito parado
E nem perceberam a gravidade da situação
Morria ali José
Parava de bater ali mais um nobre coração
E aqui nesta casa
Não é incomum ouvir o barulho das moedas
além de seus passos descendo a escada
e escorregando a mão
pelo corrimão
José não compreende
Ele não entende
O choro de sua família
A revolta de todos pela sua partida
Nem porque sua partida
Pareceu ser tão sofrida
José sempre nos visita
Aqui, de vez em quando
Ele vem e esvazia sua carteira
E separa todas as moedinhas
Esperando por alguém para recebê-las
Sem mesmo se lembrar
Que o prêmio por ser bom
Foi ser baleado e morto
Por alguém que apertou o gatilho
Sem ao menos pensar
Pobre José
Ouço sua voz pela casa
Sempre com o som das moedinhas a contar
Aqui ele faz seu porto
Enquanto não se encontra
Ele segue a esperar
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