O Controle da Fúria

Todos precisavam resolver seus problemas

E ninguém se interessou por resolver os meus
Todo mundo cuidando de filhos e família
E só vinham a mim quando algo precisavam
Quando podiam, desprezavam
E a culpa era só minha
Eu que não me enturmava
E que não cedia
Eu que era agressivo
E que tinha mente vazia
Eu que não era falso
E que não vendia
Não sorria
Pois não precisava de almoço
Nem de escorar em ninguém
Mesmo que precisasse
Jamais faria isso por alguém
Todo mundo cuidou dos seus problemas
Não deu tempo de olhar para mim
E assim foi
Ate o fim
Quando perceberam
Era tarde demais
Eu já caminhava nas minhas escolhas
Em busca de descanso e paz
Apesar de ainda era cedo
Para se deliciarem com meu derramamento
Com minha vida partindo aos poucos
A cada momento
Algumas pessoas
Já confabulavam teorias
Mesmo que em pensamento
Para ocupar o "ainda meu" apartamento
Quem quer ficar na vida assim?
Acelerava minha degradação
Alimentando de coisas ruins meus já sofridos lamentos
Pensava em quanto viver era nojento
Apesar da dádiva da vida
Como os humanos faziam daquilo um esgoto fedorento?
No último percurso obrigatório
Muitos nem sequer foram ao meu velório
Alguns sorriam, outros sofrer fingiam
Muitos agradeciam incrédulos
Pelo meu nome no atestado de óbito
Muitos, desejando a mim uma viagem sem volta para o purgatório
Havia também
Quem já questionasse mentalmente
Quem iria ficar com minhas poucas posses
Não preciso mais de nada disso
Há sempre um lugar para uma alma perdida
Não preciso disso
Estou aqui nesta casa
Apenas para curar as minhas feridas
Na verdade, nada mudou
Continuo sozinho
Nunca segui acompanhado
E hoje, caminho por essa casa aos gritos e sussurros
Enquanto cada machucado é tratado.
Caminho por essa casa
Junto a outros rogados
Que aqui podem lidar com todo o mal
Que tiveram que enfrentar



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