Reflexão das Mágoas

Será que eu fora tão ruim assim?
Em meio à minha postura competitiva de vida, minha forma aguerrida de querer fazer as coisas darem certo. Teria sido eu tão ruim assim?
Eu chegava aos meus quarenta e poucos anos com um receio enorme de abrir a boca, e quanto mais me calava, mais a minha vida abreviava.
O gosto das palavras que engolia fermentava em minha alma. Meu estômago se contorcia em indignação pelo que era censurado de falar e do que se recusavam a ouvir do meu falar.
Se elogios fossem água, minha passagem pela Terra se mostrou um deserto árido, de um calor incandescente. Nunca sequer ouvi uma palavra sequer de afeto. E por mais que um ser humano diga que não precise disso, é sim, muito bom ouvir uma palavra real e positiva sobre a gente. Com toda a humildade, acho que isto seria um reconhecimento, embora me falavam ser presunção.
Mas não, desde 2017 tudo que eu ouvia era sobre meu jeito. Me sentia julgado e sentenciado. Marcado no lombo como uma fera enclausurada no mais fétido e escuro dos calabouços. 
E toda vez que expressava esta dor, não houve uma única alma que me estendeu a mão. Meus diálogos próximos à partida eram de cobranças ou de choro pelo que eu falava ou mesmo deixava de falar. Eu me olhava no espelho e via uma faca afiada e ensanguentada saída de minha boca, dentes afiados e com carne em seus espaços. Não me julgava digno de estar ali.
Sim, Deus, eu sei que errei. Errei ao pedir quase que desesperadamente que me levasse dali, afim que eu não comunicasse mais nada, nem sequer fizesse mal a ninguém por minha existência.
Pois era assim que parecia ser. Tudo que vinha de mim, não parecia ter sido criado pelo Senhor. Me senti um traidor do que e de quem me concebeste. Não vi outra razão a não ser partir antes da hora. O último limite foi a coragem e eu a desenvolvi. 
Nunca me julguei perfeito, mas nunca pensei que o conceito alheio fosse ter tanto efeito em mim. Tudo que via no espelho era um indigno, pobre de espírito, doente, fedido, vagabundo e horrorosamente feio.
Todos me acusavam de atirar flechas, mas somente o meu corpo sangrou derradeiramente. Com a partida do mal, todos puderam novamente ser felizes.
Estou cumprindo o longo prazo das almas perdidas, atormentadas em seus próprios nós, que nunca mais haverão de se resolver.
Ainda assim, mesmo escuro, o céu aqui é mais bonito que o de outrora. Não há julgamento, não há choro, cobrança e nem sentimento ruim, que possa ser mais a mim atribuído. A alma ruim se foi, para dar lugar a solução de todos os tormentos. 

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